Despertar CEBI | Março 2018 | 50 anos a ensinar e aprender

Há 50 anos a ensinar e a aprender A Educação na Fundação CEBI

Trimestral • Ano 36 • Março 2018 • Diretor Nuno Lopes Fundador José Álvaro Vidal • Número 353 • Preço 0,50€

Há 50 anos a ensinar e a aprender A EDUCAÇÃO NA FUNDAÇÃO CEBI

A EDUCAÇÃO FUNDAÇÃO CEBI E A

Educação, compromete o futuro do seu desenvolvimento e inovação. Atualmente, o Colégio José Álvaro Vidal, com cerca de 1.600 crianças e jovens do Berçário ao 9.º ano de escolaridade, orgulha-se de ser uma referência, alcançada pela evolução do seu Projeto Educativo. Projeto centrado nos alunos, nas suas características pessoais e necessidades emergentes, com forte apelo às componentes artísticas/ desportivas enquanto fatores enriquecedores e potenciadores das aprendizagens formais. Os valores humanistas acompanham as propostas pedagógicas, ambicionando-se, assim, contribuir para o desenvolvimento local de uma cidadania interventiva e centrada nos princípios da Democracia. É valorizado o alinhamento entre os princípios da Fundação CEBI e a prática de todos os docentes e não docentes na interação com os alunos e as suas famílias. Estes princípios de solidariedade são

No ano de 1968 o espírito de iniciativa de um grupo de pessoas, imbuídas de uma forte componente solidária, esteve na génese da Fundação CEBI. A consciência das necessidades no âmbito Social e Educativo foi determinante para a criação de uma resposta que visava apoiar crianças e respetivas famílias, numa época em que na Comunidade de Alverca a oferta residia apenas no “Ensino Primário”. Nasceu, assim, a primeira manifestação do reconhecimento do papel fundamental da Fundação CEBI na criação de respostas para a Comunidade na área da Educação. Considera-se que a Educação, direito fundamental do individuo, tem um grande impacto em todas as áreas da vida, sendo um agente promotor do desenvolvimento social, económico e cultural, quer em termos individuais, quer na Comunidade. Um país que não procura a excelência na

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Ana Maria Lima

Presidente do Conselho de Administração da Fundação CEBI

Secundário. Assim, a oferta assegura a possibilidade dos seus alunos reforçarem a relação de confiança com o Colégio José Álvaro Vidal, cumprindo a escolaridade obrigatória desde os primeiros meses de vida até à entrada para a Universidade. O seu compromisso é contribuir para a formação de pessoas responsáveis, autónomas, solidárias, que conhecem e exercem os seus direitos e deveres em diálogo e no respeito pelos outros, com espírito crítico e criativo - fundamento do seu Projeto Educativo. A função e o sentido da Escola têm evoluído ao longo dos anos, acompanhando a evolução das nossas sociedades mas, desde as suas origens, a CEBI colocou o humanismo como principal referencial da sua atividade. Cabe a todos os Colaboradores da Fundação honrar estes princípios. A memória do seu fundador, José Álvaro Vidal, os seus alunos e as suas famílias merecem-no.

uma das razões que explicam a enorme heterogeneidade dos alunos que frequentam o seu Colégio. A Fundação congratula-se pela diversidade de quem a procura, porque esta é uma das razões que impele a reavaliar e inovar em termos de práticas Educativas. Pensar uma Escola inclusiva, implica pensar um modelo Educativo em que cada aluno está no centro das preocupações dos docentes, que por eles são responsáveis, numa lógica de cooperação com as famílias. Convictos de que a Educação está em profunda mutação, reflexo das transformações do mundo atual, estamos atentos a todos os sinais que nos chegam, procurando adequar e inovar todos os dias, pois essa sempre foi uma das principais prioridades da Fundação CEBI desde a sua génese. No próximo Ano Letivo, a Fundação irá concretizar mais uma das suas ambições, alargar a sua resposta Educativa ao Ensino

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EDUCAÇÃO PARA A VERSUS CIDADANIA INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA Educação para a Cidadania versus Intervenção Comunitária

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António Castanho Diretor do Colégio José Álvaro Vidal

A ambição da construção de uma Cidadania Europeia, emergente dos despojos da II Guerra Mundial, é atualmente uma ideia controversa, questionada por muitos europeus, pelo que urge recolocar no centro do debate a “Educação para a Cidadania”. Coabitamos num mundo de desafios globais que condicionarão de forma irreversível, em função da ação humana, o futuro em termos sociais e ambientais. Alterações climáticas, extremismos, maior desigualdade no acesso a bens e aos direitos fundamentais são apenas exemplos que reforçam o carater de urgência da importância de uma formação individual de alunos, com competências e valores, que sejam potenciadores de uma mudança cívica global. Se por um lado estas questões podem ser olhadas como algo abstratas ou distantes, por outro elas podem ser refletidas, partindo do particular para o geral. Acreditando que cada gota faz o oceano, assume-se a Educação para a Cidadania como um ambiente de sementeira. Um espaço para, numa lógica de debate crítico tendo por base preocupações dos alunos e das famílias, germinar condutas cívicas que privilegiem igualdade nas relações interpessoais, integração da diferença e respeito pelos valores de cidadania democrática. Neste contexto, a implementação do Projeto de Autonomia e Flexibilização Curricular trouxe ao sistema Educativo a elasticidade necessária para uma maior adequação do contexto Escolar às questões e características dos discentes e das Comunidades. Assim, ambiciona-se uma formação de alunos que construam uma cultura científica e artística de base humanista em simultâneo com a capacidade para intervir de forma cívica, ativa e consciente na sua Comunidade e na sociedade. É possível partilhar um elevado grau de pertença à nossa Comunidade com o sentimento de Cidadania Europeia. É neste contexto que os movimentos de intervenção local, formais ou informais, podem afirmar-se como catalisadores de um debate que tendo como ponto de partida a sala de aula, podem ser transversais à mesma Comunidade. O torvelinho que é viver em direto as mudanças do mundo atual, embora preocupante, também tem exemplos profundamente mobilizadores. O exemplo recente em que assistimos nos EUA, à emergência de movimentos contra a proliferação de armas nas Escolas, a serem liderados por crianças, que nalguns casos tinham pouco mais de 10 anos, também nos mostra que é possível refletir, debater e construir um forte sentido de cidadania cada vez mais cedo. A questão que emerge está na nossa capacidade em corresponder aos anseios e expectativas das gerações mais jovens, sem pretensões a modelá-las ou a orientá-las. De facto, a globalização oferece uma enorme janela para o mundo. O desafio está em construí-lo, assente num conjunto de valores e princípios de igualdade e reciprocidade em que muitos acreditam.

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projeto de

Grupo para a Flexibilização Curricular

É já no próximo Ano Letivo que o Colégio abraça o desafio de implementar nas suas dinâmicas o Projeto de Flexibilidade Curricular, com vista a inovar e melhorar as suas práticas. Mais do que saber Português, Matemática ou Ciências, o Colégio terá agora ainda mais autonomia na gestão do seu currículo, valorizando igualmente nos alunos competências cívicas, estéticas e artísticas. Tendo como missão apoiar o desenvolvimento efetivo da Comunidade, com vista à melhoria da sua qualidade de vida, a Fundação CEBI é promotora de valores e princípios de humanismo, de solidariedade, de igualdade de oportunidades e de desenvolvimento sustentável. É com base nestes princípios que nos propomos diariamente a dar resposta aos desafios que a Educação enfrenta nos dias de hoje, proporcionando aos nossos alunos o acompanhamento e desenvolvimento do conhecimento científico, técnico, profissional e ético. O Projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular tem como foco mobilizar as Escolas a, com maior liberdade, pensar Projetos adaptados quer às suas necessidades e às dificuldades dos seus alunos, quer à possibilidade de potenciar e valorizar o seu sucesso, garantindo, deste modo, “(…) uma Escola inclusiva, cuja diversidade, flexibilidade ,

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autonomia e

inovação e personalização respondem à heterogeneidade dos alunos, eliminando obstáculos de acesso ao currículo e às aprendizagens, adequando estas ao perfil dos alunos.” ( in Diário da República, Despacho nº 5908/2017 ). Numa lógica de Educar para o sucesso, pretende-se que a Escola funcione cada vez mais como um espaço onde os nossos alunos poderão ver a sua curiosidade estimulada com vista à construção do seu próprio conhecimento. Pretende-se, assim, promover em todos os intervenientes a responsabilidade e autonomia nos momentos de ensino/aprendizagem, de modo a assegurar a preparação dos alunos, facultando-lhes alicerces e oportunidades para as múltiplas exigências da sociedade contemporânea, criando condições físicas, sociais e culturais. De salientar a importância da formação humanista dos Professores, bem como a capacidade de reflexão das suas práticas, a fim de privilegiar a interligação entre as aprendizagens dos alunos como cidadãos democráticos, tolerantes e criativos, assegurando o seu desenvolvimento cívico equilibrado, bem como a sua consciência interventiva. “O principal objectivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram.” ( Jean Piaget )

curricular

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Inês Massuça | Sandra Moreno Professoras do Colégio José Álvaro Vidal

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Era uma vez uma Escola, que nasceu muito pequenina, mas já com a promessa de que um dia seria grande, pois havia nascido de um sonho. O sonho ganhou vida, tornou-se obra pelas mãos do homem que o sonhou e que deu a esta Escola o nome que ela tem. Outras mãos se juntaram na construção de um Projeto que foi crescendo e que alargou desde o Berçário até ao 9.º ano. Outras mãos e outros nomes cruzam a sua história com a construção desta casa do saber, do ser, do saber ser. Esta Escola cresceu. É hoje povoada pela história de vida de tantas crianças que ao longo de cinco décadas percorreram aqui uma etapa tão significativa dos seus percursos escolares. Testemunhámos, tantas vezes, a emoção da despedida no final do 3.º ciclo, momento de felicidade, mas muitas vezes com a expressão da vontade de poder continuar e com a nostalgia da partida na idade em que tudo começa para uma nova vida: a etapa do Ensino Secundário. E o sonho foi crescendo, clamando por mãos que o soubessem tornar real. Aproxima-se a realização deste sonho: a abertura do Ensino Secundário. Num mundo em transformação ao nível político, económico, tecnológico, cultural, mas também ao nível moral, urge encetar desafios que induzam mudança. E o desafio é dar continuidade à visão que é o pilar do Projeto Educativo que, ao longo dos anos, se foi desenhando: fomentar a aprendizagem e o sucesso Educativo, ao mesmo tempo que se investe na consolidação da formação da identidade da pessoa do aluno, o qual se encontra em plena fase de mudança, de questionamento, de procura ativa de percursos para a vida adulta que se avizinha. Na Escola, os alunos não são ilhas; são os protagonistas de escolhas pessoais que devem ser efetuadas do um modo securizante. Encorajar o voo é dar voz aos alunos para que a Escola possa ter asas para continuar a voar.

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Goreti David Coordenação do Colégio José Álvaro Vidal

Enviam-se mensagens a uma velocidade relâmpago. Obtêm-se informação de tudo e sobre tudo a qualquer hora e em qualquer lugar. Treinam-se jogos de estratégia, fazem-se trabalhos de grupo, discutem-se ideias a qualquer distância sem sair do lugar, com colegas do mesmo bairro ou de qualquer canto do mundo. Pesquisam-se todos os temas e relaciona-se qualquer tema em segundos apenas. Hoje o tempo é outro tempo. O futuro é agora. O Pedro e o João conversaram comigo sobre a Escola do futuro. Conversa cautelosa, tímida no início...é sempre bom termos cautela, que estes Professores por vezes pregam- nos partidas! Lembram-se as aulas de Matemática de outros tempos atrás, muito tempo para eles, pois dez anos neste tempo de vida, é mesmo uma vida. Mostram-me ideias seguras, responsáveis com os outros, com o planeta, com a floresta, com os desafios recentes, referem o amor de ambos pelas artes, pela música, pelos instrumentos que tocam. Vibram ao falar do intercâmbio de Espanhol e sugerem outros intercâmbios, talvez com Francês porque estas experiências lhes dão novos mundos. Interessam-se pelos contactos com outras Escolas, noutros lugares, querem ir lá fisicamente pois nas Redes Sociais viajam para lá todos os dias. Arriscamos outros assuntos como o clima de sala de aula, ou estratégias pedagógicas, melhores ou piores dos seus pontos de vista. Sabem que aulas expositivas não são interessantes e sabem muito bem que gostam de participar e ser interventivos. Referem que trabalhar com colegas de outras turmas é muito estimulante. Asseguram-me que gostariam de partilhar conhecimentos adquiridos nas áreas artísticas, dizem que, para motivar os mais novos. Ganham confiança e mostram já saber imenso sobre políticas Educativas, cargas horárias, o que pode ser mantido e o que deve ser alterado em tempos curriculares e não curriculares. Falam sobre motivação de alunos ou empenho de Professores. Trouxemos para a conversa o tema da avaliação. Reconhecem- lhe importância. Pese embora haja aspetos a rever. Apresento-lhes sobre este assunto outras possibilidades. Outras formas de avaliar. O João, mais meticuloso, alertou-me para alguns riscos, enquanto que o Pedro ficou meio pensativo, meio desconfiado…

Dedico este texto aos nossos alunos, àqueles que em breve irão ocupar papéis de relevo na nossa sociedade, assumindo responsabilidades políticas, sociais e económicas. Aqueles que irão tratar de questões relacionadas com emprego,

ambiente, conflitos internos, direitos humanos.

P.S. perguntaram-me se poderiam discutir estes temas em turma. Encantada, disse que sim. Dei-lhes o meu e-mail para o caso de se terem esquecido de algo fundamental.

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edição temática / intervenção social e comunitária

E SE NÃO TIVÉSSEMOS DISCIPLINAS NA ESCOLA?

Ficam ambos boquiabertos... como seria isso? Pensámos em conjunto nas dificuldades de organização. Poderíamos ter espaços próprios para trabalhar determinados conteúdos ou até os mesmos conteúdos serem orientados por Professores de áreas diferentes. Desmontámos aquilo que temos e perspectivámos novas possibilidades.

NÃO ESTARMOS ORGANIZADOS EM TURMAS SERIA POSSÍVEL?

E SE NÃO NOS PREPARÁSSEMOS PARA OS TESTES? AFINAL, SERVEM PARA QUÊ?

DEVEREMOS APRENDER O QUE GOSTAMOS MAIS E O QUE NOS FAZ MAIS FELIZES?

Parecem baralhados… acredito tê-los surpreendido ao questionar se gostariam de desenhar o seu currículo. Calculo que cada um deles terá imaginado rapidamente um desenho para si próprio. Combinámos novo encontro, solicitei que ficassem a pensar sobre que aprendizagem lhe serviria para a vida. Ficaram desconcertados e foram fazer uma pesquisa. Quanto a mim, revejo que assuntos poderão vir a ser considerados na nossa próxima conversa. Quero saber as suas opiniões sobre ensino personalizado. Vou colocar- -lhes a possibilidade de terem menos horas de aulas e também menos fichas de avaliação. É que, acredito que um importante momento de concentração deverá ser precedido de outro para brincar ou relaxar. Interessa-me saber o que pensam sobre aprendizagem autónoma, podendo recorrer a tutores. Quero saber o que pensam sobre aprenderem mais línguas estrangeiras desde cedo, terem mais tempo para a música, para a arte, saber se se interessam por poesia. Terão certamente muito para me ensinar sobre jogos online , organização de comissões de alunos ou torneios interturmas. Asseguro-lhes desde já lugar em todos os grupos de planificação e concepção de atividades transversais do Colégio. São altamente competentes. Serão sempre surpreendidos e desafiados a desconstruir ideias formatadas.

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Estamos aqui com o coração, Comprometidos com um sonho antigo... Sonho de ajuda, de ensinar e de aprender, porto de abrigo. Somos muitos e tão diferentes, Nos nossos gestos e ambições. E a riqueza da diferença, Dá-nos poderes e aptidões. Sermos felizes nas pequenas coisas, Sermos gigantes em Cidadania. Acelerados com o primeiro beijo, Fascinados a ouvir poesia. E queremos quebrar fronteiras, ver nos outros o seu melhor. E amar o arco-íris, o preto, o branco e todas as cores. E queremos pensar grande, Ser artistas ou pensadores, Políticos ou matemáticos, Bailarinos e cuidadores. Sermos nós próprios, Transformar o mundo. Ter ideias de justiça, E inovação, Mostro-te a lua, E dá-me a mão. Hino Oficial da Fundação CEBI

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