Despertar CEBI | Março 2018 | 50 anos a ensinar e aprender

António Castanho Diretor do Colégio José Álvaro Vidal

A ambição da construção de uma Cidadania Europeia, emergente dos despojos da II Guerra Mundial, é atualmente uma ideia controversa, questionada por muitos europeus, pelo que urge recolocar no centro do debate a “Educação para a Cidadania”. Coabitamos num mundo de desafios globais que condicionarão de forma irreversível, em função da ação humana, o futuro em termos sociais e ambientais. Alterações climáticas, extremismos, maior desigualdade no acesso a bens e aos direitos fundamentais são apenas exemplos que reforçam o carater de urgência da importância de uma formação individual de alunos, com competências e valores, que sejam potenciadores de uma mudança cívica global. Se por um lado estas questões podem ser olhadas como algo abstratas ou distantes, por outro elas podem ser refletidas, partindo do particular para o geral. Acreditando que cada gota faz o oceano, assume-se a Educação para a Cidadania como um ambiente de sementeira. Um espaço para, numa lógica de debate crítico tendo por base preocupações dos alunos e das famílias, germinar condutas cívicas que privilegiem igualdade nas relações interpessoais, integração da diferença e respeito pelos valores de cidadania democrática. Neste contexto, a implementação do Projeto de Autonomia e Flexibilização Curricular trouxe ao sistema Educativo a elasticidade necessária para uma maior adequação do contexto Escolar às questões e características dos discentes e das Comunidades. Assim, ambiciona-se uma formação de alunos que construam uma cultura científica e artística de base humanista em simultâneo com a capacidade para intervir de forma cívica, ativa e consciente na sua Comunidade e na sociedade. É possível partilhar um elevado grau de pertença à nossa Comunidade com o sentimento de Cidadania Europeia. É neste contexto que os movimentos de intervenção local, formais ou informais, podem afirmar-se como catalisadores de um debate que tendo como ponto de partida a sala de aula, podem ser transversais à mesma Comunidade. O torvelinho que é viver em direto as mudanças do mundo atual, embora preocupante, também tem exemplos profundamente mobilizadores. O exemplo recente em que assistimos nos EUA, à emergência de movimentos contra a proliferação de armas nas Escolas, a serem liderados por crianças, que nalguns casos tinham pouco mais de 10 anos, também nos mostra que é possível refletir, debater e construir um forte sentido de cidadania cada vez mais cedo. A questão que emerge está na nossa capacidade em corresponder aos anseios e expectativas das gerações mais jovens, sem pretensões a modelá-las ou a orientá-las. De facto, a globalização oferece uma enorme janela para o mundo. O desafio está em construí-lo, assente num conjunto de valores e princípios de igualdade e reciprocidade em que muitos acreditam.

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