OLGA FONSECA
Sofrem. Sussurram lamentos. Lutam. Semeiam tempestades no canto da noite e Pontapeiam as esquinas das cidades. Elas são miniaturas de gente À procura de uma história maiúscula Que os leia, enfim, como reis, Afinal, num mundo de poucos príncipes!
(PAULO GUERRA, 2007)
1. Li-as de um gole só. Sofregamente.
Como se não houvesse mais histórias no mundo. Há muito que soletro o verbo de Olga Fonseca. Reconheço-o. À distância, como marca na água que persiste em não me deixar. José Saramago disse que os livros deviam ser vendidos com uma cinta a dizer: “ – Cuidado, tem uma pessoa dentro!” . Estas Histórias de silêncio num mundo aos gritos deviam ser vendidas com uma cinta a dizer: “ - Muito cuidado, tem várias pessoas dentro! ” Que, no fundo, se resumem a uma – a própria autora, dona dos silêncios que teima em calar e dizer em voz alta. Ela acredita. Acredita que basta escutar o mar e as suas vagas. E a voz do coração, do afecto maior de que se vestem os seus dias e as suas noites, a cuidar de tantas crianças do Mundo. Basta meditar na pausa do vento, na direcção dos rochedos - esses que abar- cam as canoas da bravura -, a norte, a este, a oeste ou a sul dos afectos. Ela, que fala com o tempo, acredita na voz do seu azul, nas almas que dan- çam, nas paredes nuas da ventania. Ler estas histórias de água doce e de olhar tão tristemente belo, tão velho
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