Histórias de silêncio num mundo aos gritos

HISTÓRIAS DE SILÊNCIO NUM MUNDO AOS GRITOS

que se fez novo, tão novo que se quer velho, com todo o seu ritmo e musi- calidade, sabe a maresia, daquela brisa fresca de que se fazem os poemas interditos, as histórias menos felizes de uma dúzia de crianças que, por quererem ser poema, merecem tanto ser felizes. A sua escrita é carnal, sofrida, viral. Contendo pedaços de gente, coleccionando pedaços de tempo. Como bem nos lembra Emília Martins: « São muitas as personagens que nos fazem pensar. Em cada instante, antes do pano se fechar ». Neste palco da vida onde cada momento é, para sim, uma passagem cons- truída de pilares singulares.

2. Singulares estes rostos. Porque este livro fala de vozes de crianças.

Daquelas que, com nome, viveram histórias sem nome. E estes infantes sofreram tanto na alma e no corpo. O meu desejo é que elas possam dizer: « O meu passado familiar não tem necessariamente de determinar o meu futuro ». Mas quem não recordar o passado está condenado a repeti-lo! Porque embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qual- quer um pode começar agora e fazer um novo fim… Este estatuto “maior” que a 1ª Infância tem de conquistar é defendido por inves- tigadores tão conceituados como Brazelton e Greenspan (2002) que afirmam: “ A primeira infância é simultaneamente a fase mais crítica e a mais vulnerável no desenvolvimento de qualquer criança. A nossa investigação, bem como as de outros, demonstra que é nos primeiros anos de vida que se estabelecem as bases para o desenvolvimento intelectual, emocional e moral. Se não for nessa fase, é certo que a criança em desenvolvimento pode ainda vir a adquiri-las, mas a um preço muito mais elevado e com hipóteses de sucesso que vão diminuindo à medida que decorre cada ano. Não podemos negligenciar as crianças nesses seus primeiros anos de vida ”. A construção de um projecto educativo para os espaços onde se educa uma criança exige, assim, “ que se considere as crianças e seus profissionais como seres históricos, criadores de cultura e sujeitos de direito. É preciso enfrentar a realidade. Mascará-la ou ignorá-la é fugir ao compromisso e continuar com medidas paliativas ”.

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