que aqui estão institucionalizadas, não nos podemos esquecer que “a normalidade do seu dia a dia também incluía saídas e visitas” exter- nas à Fundação. De repente, tudo isso deixa de existir. A Casa transforma-se também em Escola, as conversas com o exterior acontecem através de um ecrã e a gestão diária de uma “família tão numerosa” ganha novas vertentes. Claro que todas as mudanças, tão repentinas, tiveram impacto “na oscilação das emoções e dos comportamentos destas crianças”, que “não compreendem e ficam assustadas”. Revelou-o Olga Fonseca, esclarecendo que, nesses momentos, “é preciso proceder à reorganização cognitiva dos pensamentos mais desajustados, ajudando-as a lidar com o medo”. Houve, por isso, um longo processo pedagógico associado ao processo psi- cológico, até porque, durante o período de pandemia “aconteceu mesmo de tudo”!
A consistência da resposta avaliava-se, também, por isso mesmo: era muito importante garantir que todos os profissionais estavam alinhados com a estratégia interventiva. As situações mais críticas, recordam, foram aquelas “em que tivemos que reavaliar tudo o que fazíamos até então” porque “as estra- tégias que usávamos normalmente não serviam para ultrapassar todas as condicionantes que estávamos a viver”. As afirmações são de Filipa Marques, Educadora da Casa de Acolhimento, mas são transversais a todos os profissionais do Departamento. E que situações foram essas? Dois processos de adoção, três novos acolhi- mentos e o falecimento da mãe de três crianças institucionalizadas. Esta última, “uma situa- ção dramática que teve de ser acompanhada de forma muito próxima e cuidada”, explicou Olga Fonseca. “Foi preciso ajudar estas crianças a fazerem o seu luto num período que já era, só por si, catastrófico”. Os Projetos de Vida são a razão de existir da Casa de Acolhimento
Reinventar. Redesenhar. Reavaliar.
Deixaram de existir horários ou dias da semana. E garantiu-se que todos os profissionais estavam alinhados com a estratégia interventiva.
Mesmo em plena pandemia foram fechados dois processos de adoção.
A reinvenção foi diária e vivida ao instante. Os desafios profissionais, tanto para a Diretora como para os Técnicos da Casa de Acolhimento, foram singulares e dificilmente repetíveis. Multiplicaram-se as “situações trabalhosas” e a gestão foi, talvez, “a mais complexa que alguma vez já se teve nesta Casa”. Deixou de haver horários ou dias da semana. Confiança e dedicação foram palavras-chave. E estas forças tiveram que ser constantemente transmitidas aos Cuidadores, que estiveram sempre na primeira linha de atuação junto das crianças acolhidas.
O foco e o motor de desenvolvimento da Casa de Acolhimento não deixaram de ser, em momento algum, os Projetos de Vida de todas as crian - ças. Isso fez com que, durante o período de pandemia, tivessem sido fechados “dois proces- sos de adoção, com muitas particularidades”. A Diretora do DES explica: “estivemos numa altura atípica onde tudo o que teve que ver com a transmissão de emoções estava limitado”,
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