comparando os procedimentos como uma “espécie de parto à força”. Para os técnicos da Casa, esses foram, também, “os momentos mais preo- cupantes”. André Ferreira, Psicólogo, escla- receu que “os processos de vinculação entre as crianças e as famílias foram geridos sem toque e sempre com Equipamentos de Proteção Indivi- dual” – um conjunto de tensões extra para as crianças que “tinham ali a sua hipótese de ter uma família”. “Também os momentos em que nos chegaram pedi- dos de acolhimento foram muito difíceis de gerir”, afirmou Josiane Avelar, Assistente Social, justificando que “se há um pedido des - tes, é porque alguém precisa de proteção”. E nesta Casa, seja a que horas for, “é dado sequência”. No entanto, em tempos de pande- mia, cada acolhimento previa um período de 14 dias em isolamento, o que implicava duas adaptações à instituição – “tivemos que pen - sar como podíamos atenuar este impacto”. O reflexo destes constrangimentos chegou, tam - bém, à própria equipa: “se durante os primei- ros 14 dias da criança na Casa nós não estamos com ela, como vamos começar a trabalhar o seu processo?”, questionou Filipa Marques. Redesenharam-se “os jogos de transmissão de afeto” A eficiência da resposta continuou sempre lá, mesmo quando “não se podia tocar, dar um colo ou um beijinho”. Dentro de portas manteve-se, na medida do pos- sível, a normalidade. Houve até alguns ganhos positivos, motivados pelo “pé de igualdade” ímpar em que todas as crianças se reviram. “A rotina igual para todos foi muito importante
porque veio ajudar a apaziguar algumas insta- bilidades, motivadas pela constante mudança”. Momentaneamente, “houve um equilíbrio dis - tinto”, explicou Josiane Avelar, enquanto o Psicólogo da Casa de Acolhimento foi um pouco mais longe. Para André Ferreira, “esta situação potenciou algumas características que já esta- vam presentes, como por exemplo a entreajuda e a autonomia”. Fomentou-se, com o apoio e estímulo dos Cuidadores, “a ajuda ao próximo” e cresceu a independência “nas pequenas coisas”, parti- cularidade “muito desenvolvida nestas crianças pelo facto de estarem institucionalizadas”. O afeto é regra basilar nesta que é uma Casa que protege e cuida. Uma espécie de “espaço reservado” para todos os que lá moram. O con- tacto não deixou de ser próximo, mas, mais do que nunca, era necessário não baixar a guarda da segurança. Como se fez? Reinventou- -se. “Este período foi exatamente sobre isso – retificar, repensar e alterar as estratégias que já conhecíamos, que sabíamos que funcio- navam”, mas que, de repente, “precisavam de ser ajustadas”, explicou Filipa Marques. A efi - ciência na resposta continuou sempre lá, mesmo quando “não se podia tocar, dar um colo ou um beijinho”. Redesenharam-se, por isso, “os jogos de transmissão de afeto” e deu-se ainda mais importância às palavras, “que são para se dizer, para se transmitir”. Olga Fonseca reitera: “podemos sempre dizer que te adoro e que tenho saudades tuas. As palavras nunca são demais. Não substituem o mimo mas fazem uma diferença muito positiva. Nesta Casa, isto sempre foi fundamental”. Adaptabilidade Hoje, tudo está completamente interiorizado e todos sabem que as regras são essenciais para se manterem seguros.
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