“Houve utentes que choraram por um abraço” A Instituição fez sempre tudo o o que estava ao seu alcance, de forma a evitar sentimentos de abandono, sem colocar em causa as regras estabelecidas.
Confiança e comunicação foram palavras de ordem. Estiveram presentes em todos os momen- tos e foram vitais para o sucesso de todas as missões. “Ninguém segura tudo sozinho. Entra- -se facilmente em rutura”. Por isso mesmo, o apoio incondicional de “tantas pessoas” foi imprescindível. Ainda o é. Destaca-se aqui (também) o papel das famílias, que em momento algum colocaram em causa “o sacrifício enorme que estávamos a fazer em prol da proteção de todos”. Desde a suspensão das visitas presenciais à sua reabertura progressiva, regrada e condi- cionada, o foco nunca se perdeu: continuar a ser um porto sempre seguro e um veículo de proteção fundamental. A experiência relatada por Idália Herculano, filha de uma utente ins - titucionalizada no CRE desde janeiro deste ano, vai ao encontro dessas exigências – “temos total confiança nas medidas que foram implementadas e, por isso mesmo, passámos estes meses com alguma tranquilidade. Claro que nos faz falta o contacto físico, mas sabemos que, por agora, tem de ser assim”. A mãe, por sua vez, precisa de um esforço extra para aceitar tantas medidas de proteção – “ainda hoje me pede para tirar a máscara”. Acompanhada pelo marido António, Idália reconhece a sorte que tem em “morar perto do Centro de Recursos” e, por isso, “ter feito algumas visitas, mas só à janela”. Nisso, recorda, “a Instituição sempre fez tudo o que estava ao seu alcance, de forma a evi- tar sentimentos de abandono”. Mas, claro, “dentro do que era razoável e sem colocar em causa as regras estabelecidas”. Foi uma questão de adaptação e nunca lhes “faltou informação, disponibilidade e atenção sobre qualquer assunto”. Minimizaram-se impactos, é certo. Mas eles existem.
A vulnerabilidade emocional dos Idosos foi uma das maiores preocupações para as equi- pas do Centro de Recursos. Não foi única nem isolada, mas foi talvez aquela que levantou o dobro dos cuidados, pela fragilidade inerente à condição, pela falta de perceção e entendi- mento da realidade, pelos estados debilita- dos e pelo afastamento familiar. Que não se explica, não se percebe e, muitas vezes, não se aceita. “Houve utentes que choraram por um abraço”, recordou a Diretora. Ao longo de todo o processo, o CRE contou com vários “balões de oxigénio”. Para além do apoio da Administração e do Diretor-geral da Fundação, aproximaram-se diversos Departa- mentos e estruturas da CEBI, essenciais para responder às exigências do que se estava a passar – “o trabalho colaborativo foi funda - mental na operacionalização rápida e eficaz de muitos detalhes”. Mas não só. Semanalmente, a Câmara Municipal de Mafra sentou virtual - mente as Instituições do Concelho para vários momentos de partilha, solidariedade e coo- peração. Esta rede de apoio sempre “foi uma força” localmente. Mas intensificou-se quando “todos tinham que cuidar dos seus”. Só assim “sentimos que não estamos sozinhos e perce- bemos que há quem nos dê suporte”.
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