Despertar CEBI | Março 2021 | Intervenção Comunitária CEBI

Em 2020 foram recebidos 246 novos pedidos de apoio no Departamento de Intervenção Social e Comunitária, o que corresponde a mais 50% que em 2019. Os impactos sociais e psicológicos da pandemia gerada pela COVID-19 começam a revelar-se, obrigando a uma reflexão e à adaptação dos serviços. Mas ainda se encontram Casos de Sucesso, que conseguem quebrar o ciclo de crise.

Trimestral • Ano 39 • Março 2021 • Diretor Nuno Lopes Fundador José Álvaro Vidal • Número 364 • Preço 0,50€

Em 2020 foram recebidos 246 novos pedidos de apoio no Departamento de Intervenção Social e Comunitária, o que corresponde a mais 50% que em 2019. Os impactos sociais e psico- lógicos da pandemia gerada pela COVID-19 começam a revelar-se, obrigando a uma refle - xão e à adaptação dos serviços. Mas ainda se encontram Casos de Sucesso , que conseguem quebrar o ciclo de crise. A INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA NA FUNDAÇÃO CEBI

AS REDES PARA A EMPREGABILIDADE

MÓNICA LEONARDO Presidente da APEA

Texto escrito em conformidade com o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990

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A Associação Portuguesa de Emprego Apoiado (APEA), em conjunto com a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, pro- move a Rede para a Empregabilidade de Vila Franca de Xira, na qual a Fundação CEBI é parceira desde o 1º dia da sua constituição. As Redes para a Empregabilidade são um conjunto de organizações do sec- tor público e/ou privado, de carácter social ou empresarial lucrativo, que partilham as mesmas preocupações face aos desafios da empregabilidade e da inclusão socioeconómica num dado ter- ritório e que desenvolvem uma ação con- certada e integrada para aumentar opor- tunidades formativas, de capacitação e de acesso ao mercado de trabalho. Desta forma, a rede promove a aproxima- ção e articulação de respostas, recur- sos e oportunidades, apostando nas sinergias e nas complementaridades das demais entidades do território. Estas sinergias têm por fim último apoiar, acompanhar e orientar as pes- soas em situação de desvantagem para uma melhoria ou aquisição de competên- cia pessoais e sociais que lhes permi- tam ser autónomas na sua vida. O trabalho de autonomia das pessoas candidatas, nas Redes para a Emprega- bilidade, está assente na metodologia de Emprego Apoiado. Esta metodologia defende que a inclusão das pessoas só é possível se for realizada a nível pes- soal, familiar, social, territorial, comunitário e profissional, e parte de um conjunto de premissas fundamentais

que estão interligadas: auto-deter- minação, empowerment , jobmatching e acompanhamento pós-colocação. A auto-determinação de uma pessoa, que define o emprego como o projecto de vida que deseja e que pretende alcançar, é o “motor” deste trabalho. Verificando - -se a sua auto-determinação, apesar das dificuldades experimentadas face à obtenção e/ou manutenção do emprego, irá trabalhar-se o empowerment através do desenvolvimento das competências pessoais e sociais da pessoa, de acordo com as suas necessidades e interesses. Depois de trabalhadas estas compe- tências, que reforçam positivamente a forma como a pessoa se auto-percep- ciona (enquanto pessoa e futuro profis - sional), é desenvolvido um trabalho de jobmatching . Nesta fase, são procura- das oportunidades de emprego adequadas às suas características e perfil, em que as necessidades de uma empresa são col- matadas com as competências pessoais, sociais e profissionais da pessoa. Uma vez obtido o emprego, a metodologia mantém o acompanhamento pós-colocação, fundamental à manutenção do posto de trabalho e progressão de carreira das pessoas em situação de desvantagem. Desta forma, a metodologia de Emprego Apoiado tem uma visão holística, para que as pessoas em situação de desvan- tagem, através de um acompanhamento individualizado, reforcem as suas com- petências pessoais, sociais e profis - sionais e possam viver em plena autono- mia e dignidade humana.

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INTERVENÇÃO

A

IMPORTÂNCIA

DA

INTERVENÇÃO

COMUNITÁRIA

NA

AUTONOMIA

E

BEM-ESTAR DAS PESSOAS, PARA UMA

CULTURA

DE

CIDADANIA,

PARA

A

INCLUSÃO E PARA A COESÃO SOCIAL

COMUNITÁRIA

CLÁUDIA PRAZERES Psicóloga – Diretora do Departamento para os Direitos Sociais – Câmara Municipal de Lisboa

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A Intervenção Comunitária potencia práticas de inclusão, não res- pondendo somente às necessidades de sobrevivência, mas, sobretudo, a valores comunitários, como a cooperação, cogestão, coparticipa- ção, comunicação, solidariedade e participação. Quando colocamos a “lupa” na Comunidade deve prevalecer um duplo olhar: as tradições comunitárias e as realidades sociais configura - das por grupos identitários em contacto intercultural. O objeto da intervenção prende-se com a organização da Comunidade para o exercício da cidadania, bem como para a melhoria da qua- lidade de vida dessa mesma Comunidade. O exercício da cidadania exige intervir “com” e não “para”, pelo que os grupos e pessoas devem participar de forma consciente, livre e responsável no seu desenvolvimento. A melhoria da qualidade de vida encontra-se diretamente ligada aos valores comunitários: como o associativismo, a participação cidadã, o voluntariado, o valor da cultura popular, a recupera- ção dos espaços e usos comunitários e a conservação do ambiente (físico-natural, histórico e social). A riqueza desta intervenção centra-se na promoção das pessoas como marco global do território, potenciando a democracia cultural como superação da democratização da cultura, para chegar à emancipação coletiva e à mudança social desejada. Assim, a Intervenção Comu- nitária fundamenta-se no reconhecimento da diversidade cultural, na economia popular, na multiculturalidade, no desenvolvimento da autonomia das pessoas, grupos e instituições e na promoção da cidadania. Com esta intervenção pretende-se que o ser humano vivencie a par- ticipação na Comunidade, a equidade nos benefícios do crescimento económico, a promoção de políticas orientadas para o respeito ao pluralismo, a diversidade e os Direitos Humanos, na construção de um ambiente de paz, liberdade, estabilidade e segurança, como núcleo do desenvolvimento social.

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DISTANCIAMENTO FÍSICO EM PROXIMIDADE SOCIAL

O DISC – Departamento de Intervenção Social e Comunitária foi criado em 2004 e veio constelar práticas diversas que vinham a ser implementadas pela CEBI, indissociáveis da sua génese e identidade: a organização de respostas sociais dirigidas para as crianças e suas famílias. A evolução organizacional, que conta com mais de cinquenta anos de acumulação de conhecimento, no Social, na Educa- ção e na Saúde, permitiu a sistematização das respostas munindo-se dos recursos necessários para a sua operacionalização. O Departamento adapta-se às necessidades da Comunidade de modo a reagir atem- padamente, bem como se ajusta à evolução dos conceitos, fundamentais para a consistência da ação. Tem como objetivo dar respostas multidimensionais, arti- culadas e sistémicas às populações mais fragilizadas, caracterizadas por fatores de risco associados à exclusão social. O serviço vai ao encontro da crise indi- vidual e familiar, nos diversos momentos do ciclo de vida e são implementados os procedimentos necessários com vista à contenção da crise, inclusão, autonomia e bem-estar. As pessoas que recorrem a este serviço são escutadas nas suas múltiplas compo- nentes por Assistentes Sociais e Psicólogos. Mais do que a resposta organiza- cional é uma resposta de pessoa a pessoa e realiza-se no face-a-face da rela- ção. Esta dimensão humana e afetiva é característica da cultura organizacional, identitária e diferenciadora na sua prática. Cada pessoa conta! Mas a intervenção não se resume a esta dimensão sócio-afetiva. Participa e articula com diversos sistemas, redes sociais formais e informais, promovendo localmente programas estatais em articulação com parceiros, em particular com a Autarquia e Segurança Social. Exemplos disso são o Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social Integrado - SAASI e o Programa Operacional de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas - POAPMC. E também com outros atores sociais, como por exemplo o Direitos.com, a Rede Para a Empregabilidade do concelho, a Equipa Multidisciplinar de Apoio Técnico ao Tribunal - EMAT, a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens - CPCJ, o Banco Alimentar Contra a Fome ou ainda a Phenix, na área do desperdício alimentar. O DISC intervém junto das pessoas, dos seus sistemas de pertença, dos sistemas que as enquadram, num tempo justo e oportuno.

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Psicologia e Serviço Social agem e refletem em conjunto em torno do objetivo de desenvolvimento humano e a sua ação é complementar, recorrendo sempre a outros conhecimentos e saberes quando necessário. Pessoa, tempo e contexto são as dimensões fundamentais, orientadoras das práticas conducentes aos objetivos referidos. A crise sanitária provocada pela COVID-19, que veio a revelar-se num enorme desafio para a humanidade, deu um fortíssimo abanão num vasto leque de certezas que vinham a ser cultivadas. As assimetrias sociais aumentaram acarretando consigo um aumento dos fatores de risco asso- ciados à exclusão. Os contextos e os tempos foram abruptamente alterados e muitos projetos de vida ficaram suspensos. Durante este período o DISC manteve a sua atividade ininterrupta. E enquanto na primeira situação de confinamento assistimos ao, nunca visto, recolhimento geral da população e de muitos serviços, o DISC mobilizou-se para fazer face ao expectável aumento de solicitações de ajuda, que veio a confirmar-se nos meses seguintes de Abril e Março de 2020, bem como a ajustar os procedimentos. Os impactos sociais e psicológicos da pandemia revelavam-se, obrigando à adaptação dos ser- viços, à manutenção da proatividade e do sentido de antecipação, bem como à garantia de bons níveis de motivação dos colaboradores, pese embora o medo, a ansiedade e a frustração a que se juntavam os riscos de saúde individuais e coletivos. Face ao distanciamento físico a equipa procurou a aproximação social e afetiva junto dos utentes. Em 2020 foram recebidos 246 novos pedidos de apoio ao DISC, o que corresponde a mais 50% que em 2019, aumento que está associado à urgência social em consequência da condição pandémica. Foram adequadas respostas e acompa- nhadas 494 famílias, realizando-se intervenções em situação de crise social e psicológica. A crise vivida em 2020, e que ainda se mantém, comporta dimensões biopsicossociais novas, obrigando à adaptação e à inovação das pessoas, dos grupos e das organizações. Também o DISC se adaptou, obrigado a reinventar-se como Departamento, na resposta aos utentes, bem como nas atitudes e nos comportamentos da equipa. Um exemplo disso está patente na organização dos apoios ao domicílio através da preparação e entrega dos cabazes de alimentos na habitação de utentes infetados ou em isolamento. Os atendimentos sociais e psicológicos passaram a ser realizados via internet ou telefone, durante o primeiro confinamento. Para além deste período toda a atividade foi presencial, recorrendo sempre que possível, ou necessário, aos meios de comunicação à distância. Os processos associados à distribuição de géneros alimentares foram realizados presencialmente. Ainda durante o primeiro confinamento foi realizada uma formação sobre Intervenção Social e Psicológica, com recurso ao telefone ou à internet para os Psicólogos e Assistentes Sociais. Foi, ainda, criada uma linha telefónica de ajuda psicológica dirigida aos colaboradores da Fundação de modo a contribuir para o reforço da resiliência dos colegas e das suas famílias, face ao sofrimento psicológico relacionado com a crise sanitária. No que respeita à mudança de comportamentos e atitudes relacionados com a prevenção da COVID-19, foram criados flyers online destinados às famílias das crianças e dos jovens nos diferentes momentos de desenvolvimento. De referir, ainda, a importância do Banco de Géneros Alimentares. Esta resposta contou com géneros provenientes do Banco Alimentar contra a Fome, de diversas empresas, particulares, de grandes superfícies comerciais e do programa POAPMC. Foram abrangidas 702 pessoas e foram distribuídas 200 toneladas de géneros alimentares das quais metade têm origem no POAPMC. As restantes vêm do Banco Alimentar e dos referidos beneméritos. A intervenção realizada pelo Departamento não se resume à colaboração ou ao somatório do Serviço Social e da Psicologia, mas à conceção e à intervenção de um modelo complexo, que vai ao encontro da componencialidade de cada situação, bem como, da história das pessoas e das famílias, nos diferentes momentos do ciclo de vida, da sua ambiência e do sofrimento psicológico e humano.

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INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA PRÁTICAS & ADRIANA PEREIRA Psicóloga ANDRÉ FERREIRA Psicólogo CARLA CALDEIRA Assistente Social VERA LIMA Assistente Social REFLEXÕES

criação de uma relação de empatia entre o técnico e o utente é essencial para que, em conjunto, consi- gam estabelecer metas e definir objetivos, promo - vendo a sua participação no seu processo de ajuda, e prevenindo os riscos. AS DIMENSÕES DA AÇÃO SOCIAL E DA PSICOLOGIA Em conjunto com a Ação Social a Psicologia vai dar enfoque às dimensões comportamentais, cogniti- vas e sócioafetivas des- tas famílias, e inter- vir não só nos recursos externos, mas também nos internos, garantindo a sua motivação, autono- mia e realização pessoal, sendo que é sempre feito um seguimento e acom- panhamento posterior de todas as situações. A Psicologia no Departa- mento, tem como objetivo apoiar as famílias e os sistemas de pertença dos utentes para atingirem os seus próprios obje- tivos, promovendo o seu desenvolvimento e envol- vimento. Desta forma aju- damos a construir com- petências, tais como, forças, talentos, expe- riências, capacidades, recursos e suportes que

Este texto foi elaborado no sentido de espelhar a experiência dos técnicos do Departamento de Inter- venção Social e Comuni- tária. Ao longo dos anos fomos adaptando as práti- cas, sempre com o objetivo de minimizar os riscos e ir ao encontro das neces- sidades mais emergentes dos que nos procuram. A intervenção desenvolvida pela equipa de Assisten- tes Sociais e Psicólogos tem como objetivo criar condições que permitam melhorar a vida das popu- lações em geral com vista ao bem-estar, autonomia, inclusão social e preven- ção das famílias por nós acompanhadas. Com os crescentes desa- fios colocados pela neces -

sidade da Intervenção Social e Comunitária, Psicólogos e Assisten- tes Sociais têm vindo a adaptar-se e a criar res- postas inovadoras, assen- tes na prática e na sua reflexão teórica. A equipa debate-se diariamente com desafios técnicos e huma - nos, transversais à sua experiência adquirida ao longo dos anos de inter- venção, conhecimento dos recursos existentes no terreno, bem como o conhe- cimento de cada família e das suas necessidades. A intervenção dos técni- cos é assente no respeito pelos direitos e dignidade das pessoas, envolvendo- -as em todos os proces- sos, onde a confidencia - lidade é assegurada. A

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estas têm para lidar com o seu stress, a tristeza, a angústia e a ansiedade, para que possam ultrapas- sar as situações adversas e assim conseguir criar novos caminhos, dimi- nuindo o seu sofrimento e prevenindo problemas futuros. O apoio psicológico vai também, contribuir para dar resposta às neces- sidades da comunidade no que respeita à preven- ção e à promoção da saúde mental, proporcionando o atendimento psicológico a crianças, jovens, adul- tos e idosos em situa- ção de carência econó- mica. Esta intervenção pode realizar-se em con- texto de crise, bem como em contexto de avaliação, acompanhamento e/ou enca- minhamento para outros serviços. O atendimento social específico é o momento em que o utente formalmente expõe a sua situação, formula o seu pedido. O utente, o técnico e em conjunto com a equipa, desenvolvem um plano de intervenção. A identifi - cação e a redefinição do problema, o estabeleci- mento de objetivos e a definição das estratégias

são fundamentais para o sucesso da intervenção. Não chega estar-se inte- grado. Há que estar inse- rido e assim é preciso envolver não só o utente como também os sistemas em que este se movimenta, daí a importância de uma intervenção em rede. A PROXIMIDADE ÀS FAMÍLIAS É a equipa técnica que assegura e organiza a distribuição no banco de géneros alimentares. É um momento de proximidade às famílias, onde se parti- lham experiências e onde se fortalecem vínculos, e em que a relação técnico /utente é “alimentada”, ou melhor dizendo culti- vada. Em tempo de pandemia, reinventamo-nos e à nossa forma de intervir, e com um esforço suplemen- tar. Nunca a proximidade social esteve tão pre- sente, apesar do distan- ciamento físico obrigató- rio, do risco e do medo. A equipa contribuiu assim para a mudança de com- portamentos e atitudes face às regras, fazendo a pedagogia da prevenção e das medidas de segurança. Através do atendimento telefónico e das novas

tecnologias conseguiu- -se estar perto de quem precisava e acompanhar, motivar e capacitar os utentes para que conse- guissem, nesta situação mais caótica, continuar as suas vidas, encon- trando novos equilíbrios. São muitos e grandes os desafios que se avizinham na intervenção junto da comunidade. Associada à nossa intervenção, está a necessidade de conhe- cer melhor a comunidade, encontrar potenciais par- ceiros de modo a alar- gar a rede de donativos e por forma a conseguir- mos aumentar a resposta em tempo útil, indo ao encontro das necessidades daqueles que nos procuram.

“… É essencial determinar que políticas e

programas melhor podem contribuir para reforçar as famílias a cumprir a façanha mágica que só elas são capazes: fazer e manter humanos os seres humanos.”

Bronfenbrenner, 1997

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su·pe·ra·ção Acto ou efeito de superar ou de se superar

NUNO LOPES Diretor da newsletter Despertar CEBI

Adaptação à mudança, superação de obs- táculos ou resistir à pressão de situa- ções adversas. Estas são afirmações que ouvimos com facilidade pelos corredores do Departamento de Intervenção Social e Comunitária (DISC). Os pedidos de ajuda de uma população cada vez mais fragilizada são muito frequentes. A Ajuda Alimentar é na maioria dos casos a dimensão mais visí- vel de um problema incrivelmente mais complexo e traz consigo um conjunto de outras necessidades que os técni- cos deste Departamento têm de acompa- nhar. A intervenção articulada, matriz fundamental do DISC, atua precisamente na passagem de competências a todos os seus utentes para que estes possam tomar as melhores decisões para a sua vida. Este trabalho “não é necessaria- mente de reparação”. É também preven- tivo e construtivo. Não pode agir “ape- nas no imediato, ou seja, na crise”. É

contínuo. E é nessa continuidade que se refletem os resultados. Franchiele Godoy, 44 anos, é uma das muitas utentes e famílias acompanhadas por este Departamento e um dos rostos da transformação. É uma história ins- piradora, de superação, que em conjunto com a intervenção do DISC, renovou uma diversidade de competências pessoais e profissionais e aparece-nos, hoje, como uma pessoa mais capacitada. O seu primeiro contacto com Portugal remonta ao ano de 2011, depois de atra- vessar o Atlântico vinda do Brasil. A sua viagem para solo português trazia na bagagem a esperança de um futuro mais risonho, objetivo comum a tantas outras situações em condições seme- lhantes. Um sonho que comportava uma responsabilidade acrescida. Franchiele não veio sozinha. Com ela chegou Gus- tavo, de 2 anos, e a necessidade de encontrar um contexto socioeducativo

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para o seu filho foi uma das suas pri - meiras preocupações.

três anos depois, já em 2021, o vínculo de Franchiele à CEBI seja muito menor. Tem trabalho, uma casa arrendada e a entrevista que gentilmente nos concedeu foi realizada através de uma plataforma de videoconferência, num computador portátil adquirido por si. Está orgu- lhosa. “Mas não foi fácil. Há momentos de grande desespero, de angústia, de solidão mas desistir nunca foi opção”. A resiliência foi um fator preponde- rante para o sucesso e está espelhada no rosto desta utente. A sua “famí- lia também está no DISC”, afirmou-nos, a quem está eternamente agradecida. A todos, sem exceção. Franchiele, com sacrifício, conseguiu reunir verba para regressar ao Brasil para um curto período de férias. É o corolário de um grande esforço para rever as outras duas filhas, maiores de idade, cuja vida está estabelecida no seu país natal. Apesar deste caso de sucesso que podia igualmente ser retratado noutras famí- lias, a pobreza e a exclusão social estão a assumir números preocupantes e prevêem-se processos de contínua deterioração das condições de vida de várias famílias que já se encontravam numa situação de vulnerabilidade, bem como de agregados que até então tinham as suas vidas organizadas do ponto de vista financeiro. Todos os interventores comunitários encontram-se sob grande pressão, quer pelo aumento do número de beneficiários e pedidos de ajuda, quer pela dificuldade acrescida em manter a atividade face a um risco de contágio do novo coronavírus SARS-COV-2 e das suas variantes. Mas o desafio do DISC mantém-se. Continuar a mobilizar-se em torno do Desenvolvimento Humano, numa procura incessante pelos “seus” Casos de Sucesso.

FUNDAÇÃO CEBI – O PORTO DE ABRIGO Alverca acabou por ser a cidade que a acolheu. Algum tempo depois, conheceu a Fundação CEBI e Gustavo foi aco- lhido por uma Ama Familiar. As res- postas sociais e educativas estiveram sempre presentes e acompanharam as dificuldades de inserção desta família. Mas Franchiele perante as adversida- des que foram surgindo, sentiu-me mais confortável em regressar ao seu país de origem. No entanto, a relação com Portugal não terminou ali. Em 2017 regressa e com ela o sonho que permanecia intacto. Lutar por um futuro melhor. E a CEBI voltou a ser o seu porto de abrigo, num trabalho interdepartamental que culmi- nou com a atuação do Departamento de Intervenção Social e Comunitária. “Foi a única resposta quando mais ninguém estava ao meu lado”, afirmou. Um reflexo claro daquilo que está plasmado na mis- são desta Fundação: “Apoiar o desenvol- vimento efetivo da Comunidade, em espe- cial dos seus grupos mais vulneráveis, com vista à melhoria da sua qualidade de vida”. A FORÇA INTERIOR COMO FATOR PARA INVER- TER O CICLO No DISC, Franchiele recebeu uma res- posta personalizada e iniciou, em con- junto com os técnicos, o seu processo de inserção e construção de autonomia, que se pretende perdure no tempo. Para além de uma ajuda concreta e imediata - bens alimentares e outros géneros - a intervenção de fundo foi clara: inter- romper o ciclo de crise que normalmente se autoalimenta. A matriz de intervenção fez com que

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SUGESTÃO DE LEITURA

Nesta sugestão de leitura estão três textos que consideramos par- ticularmente relevantes para a reflexão fundamental e para a prá - tica da Intervenção Social e Comunitária. O livro de Urie Bronfen- brenner, editado em 2005, que apresenta a evolução conceptual do autor e o modelo bioecológico de desenvolvimento humano, o texto de grande atualidade de Peter Cockersell para uma melhor compreen- são das condições associadas ao risco de Exclusão Social e por fim o livro de Sónia Guadalupe em torno da teoria e prática da Ação Social numa perspetiva sistémica e de intervenção em rede.

Sugestão por Isabel Castanho e Nuno Rocha

Propriedade CEBI - Fundação para o Desenvolvimento Comunitário de Alverca Morada do Proprietário Quinta de Santa Maria, Rua Maria Eduarda

Pessoa Coletiva 503 738 506

Editor Fundação CEBI

Morada do Editor Quinta de Santa

Segura de Faria, nº2, 2615-354 Alverca do Ribatejo

Administração Ana Maria Lima (Presidente), Mónica Isabel

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Lopes Conselho Editorial Ana Maria Lima, Carla Vieira Gil, Isabel Castanho, Manuela Amaral, Matilde Gonçalves, Nuno Rocha, Olga Fonseca,

Colaboração Permanente Sara Cabral

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Pedro Oliveira, Teresa Rodrigues

Faria, nº2 2615-354 Alverca do Ribatejo Secretariado Lurdes Farinha Grafismo e Paginação Pedro Mateus Impressão SOARTES - Artes Gráficas,

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