Despertar CEBI | Mar 2020 | Comunicar é sobreviver

Nas capacidades comunicativas da Internet encontramos, assim, “o único meio de comu - nicação verdadeiramente planetário”, que se constitui como um “autêntico mercado e fórum de ideias global”, onde “a noção de intera - tividade, ensaiada de forma incipiente nas plataformas convencionais, adquire agora toda a importância”. Aquilo que seria uma enorme garantia à Liberdade de Expressão, consagrada no artigo 19.º da Declaração Universal dos Direitos do Homem, é hoje também uma ameaça crescente, reveladora de um espaço e debate públicos enfraquecidos. A descentralização de autori - dade, que se afirma como “uma das principais e mais ricas particularidades do meio”, cria dificuldades na precisão, na responsabiliza - ção, na contenção de abusos e na garantia de imparcialidade. E isso deve preocupar- -nos. A todos e a cada um. A desinformação fragiliza a confiança nas Instituições e nos Órgãos de Soberania e prejudica até os mais resistentes sistemas democráticos, na medida em que compromete “a capacidade dos cidadãos de tomarem decisões bem informadas”. EDUCAR PARA OS MEDIA E COMBATER A “ILITERACIA DIGITAL” Nesta autêntica e única “Sociedade de Infor - mação”, os media e a Internet estão a revo - lucionar a forma e o tempo em que se produz, divulga e partilha conteúdos, respondendo e tirando partido “do direito de informar, de se informar e de ser informado”. No entanto, uma consulta pública nos Estados Membros, dirigida pela Comissão Europeia, revela que várias vezes por mês “80% dos europeus” lê informação que “considera falsa ou engana - dora” e 85% dos inquiridos considera mesmo que a desinformação é “um problema no seu país”. Nesta, cada vez maior, consciencialização para “os perigos de estarmos todos conectados em rede, imersos num espaço sem fronteiras em que todos comunicam com todos à escala global”, emerge a necessidade de formar cida - dãos que “saibam consumir informação, sabendo

distinguir entre fontes falsas e fontes ver- dadeiras”. As notícias “devem dizer-nos o que está a acontecer e porquê, permitindo-nos assim formar opiniões e agir em sociedade. Se a informação que temos é falsa, as nossas opiniões serão frágeis, e quando muitas opi- niões se baseiam em falsidades, em preconcei- tos, em erros ou falácias, a nossa vida comum – a Democracia – está em risco”. Avaliar criticamente a informação que inunda a era digital é uma das necessidades. A outra consiste em, adotar estratégias educativas que ajudem e ensinem os cidadãos a consumir conteúdos. Educar para os media e combater a “iliteracia digital”, que pode ser conside - rada o analfabetismo dos tempos modernos, são essenciais para públicos mais esclarecidos, que sabem escolher com fiabilidade as suas fon - tes de informação, que desconfiam e denunciam quando os factos apresentados têm por base premissas falsas, incorretas ou incoerentes. Enquanto recetor de informação, a cada indi- viduo colocam-se duas questões fundamen- tais: ‘isto é verdadeiro ou falso?’ e ‘vou ou não partilhar esta história?’. Se o perfil ou website que divulga a informação não for de um órgão oficial, desconfie. Se a estória está em diversos órgãos informativos, com - pare versões. Se o texto tem erros e “parece uma tradução automática”, duvide. Se não há citações, se as acusações surgem descontex- tualizadas e se não são divulgadas quaisquer fontes noticiosas, saiba que o jornalismo é imparcial e “tem obrigação de ouvir os dois lados dos factos e apresentá-los”. Se ainda assim, a informação parecer credível, com sentido, importante ou crucial, procure pensar duas vezes se porventura fará sentido replicá-la – “a desinformação é um processo. Tem os seus criadores, muitas vezes anóni - mos, os seus propagadores, que muitas vezes são máquinas, mas depende, em última aná- lise, de pessoas concretas, como nós, para ser dominante e eficaz”. A partilha torna - -se viral. O debate público também “depende sempre da nossa capacidade de escolher a informação que partilhamos”.

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